terça-feira, 27 de outubro de 2009

Dormindo na praça! Londres - maio de 2005


Olá, Pessoas Lindas!!!

E eu que achava que fazer o Caminho de Santiago sozinha seria a maior loucura/aventura da minha vida é porque eu não sabia o que me esperava na minha primeira noite em Londres.Mais uma vez o email ficou muuuiiiittttttttttoooooo longo, mas acho que quem conseguir chegar até o final vai dar, ao menos, umas risadas.

Desde Portugal essa viagem já estava me dando dor de cabeça. Isso porque sempre todo mundo tem um amigo, um parente em Londres que pode te receber, mas quando chega na hora "do vamos ver", todo mundo foge e, inevitavelmente, você acaba ficando na mão.

Iria embarcar na quarta à noite e passei a tarde de terça-feira procurando albergues na internet. Não fica difícil imaginar que, aos 45 minutos do segundo tempo, já estava tudo lotado, óbvio.Achei apenas 3 albergues, bem toscos, todos com o mesmo preço e acabei escolhendo o que ficava "mais perto" do centro de Londres e que tinha uma aparência um pouco mais agradável.

Saindo de Portugal, depois de fazer uma verdadeira via sacra (onibus, comboio, onibus...) para chegar até o Aeroporto do Porto , tive o meu primeiro problema. A Sra. da alfândega cismou com o meu passaporte espanhol (ele está um pouco acabado porque tomou chuva no Caminho de Santiago de Compostela) e dificultou a minha saída.Fiquei tão apreensiva, com medo de não conseguir entrar em Londres, que não tive dúvida, peguei a bíblia - Crime e Castigo - Dostoievski - que estava na minha mochila, coloquei o passaporte no meio e fui sentada em cima do livro durante as duas horas de vôo!!

Cheguei um pouco quadrada em Londres, mas, com o meu passaporte bem mais apresentável, entrei naquela cidade sem problemas.Cheguei em Stansted, aeroporto muito afastado do centro, na primeira hora do dia 5, e me surpreendi, porque me virei muito bem com o meu inglês tupiniquim e às 3:00, depois de pegar 3 ônibus, já estava na porta do Albergue, só que...O mesmo estava fechado.

Sim, fechado! Ao fazer a reserva pela internet, onde dizia que a recepção do albergue funcionava 24 horas, avisei que chegaria na madrugada do dia 5, só que eles devem ter esquecido. Conclusão, fiquei no meio da rua, na madrugada, com uma mochila gigante nas costas e sem ter para onde ir.

Em volta do albergue, duas opções, um mercadinho e um escritório de rádio táxi.Fui ao mercadinho, expliquei a minha situação aos dois homens que estavam no caixa, um indiano e o outro, um negro vestido como rapper, que me disseram para eu deixar a minha bagagem lá embaixo e subir e dormir em um quartinho que eles tinham lá em cima.

Pensei 3 segundos e achei melhor ir embora, imagine, eu, uma "gringa" sozinha e com dois homens completamente desconhecidos. Primeiro eles fariam a festa com as minhas coisas e depois comigo, tô fora, agradeci a ajuda e fui ao escritório de rádio táxi.

Chegando lá, encontrei uma sra.loira, Marie, de uns cinquenta anos que ficou bem preocupada com a minha situação, tentou ligar para o albergue mais umas 3x (eu também já havia ligado zilhões de vezes) e como ninguém atendia, me disse para que eu passasse a noite lá. Um verdadeiro anjo.

Passei a primeira hora na recepção, mas quando deu umas 4:30 ela me obrigou a entrar na salinha onde ficavam os taxistas, porque me disse que aquela zona era repleta de refugiados e imigrantes ilegais e frequentemente alguém era assaltado/violentado lá. Bom o lugar que escolhi!!!

Entrei na dita salinha e passei a noite ao lado de uns 6 taxistas, todos africanos, com um sotaque super carregado (não entendia quase nada do que eles falavam), e bem parecidos com aquele ator negro enorme que fez "A espera de um milagre".

Para ajudar, o programa que eles resolveram assistir era igual ao Linha Direta, então imaginem o meu desespero, depois da Marie já ter me dito que aquela era uma das zonas mais perigosas de Londres!!

Só para ajudar mais um pouquinho, estava muito,muito frio e eu não tinha mais roupas para vestir, às vezes o meu corpo até tremia e no auge do meu desespero me lembrava daquela música "ótima" do Bruno e Marrone, "Eu dormi na Praça" e tinha ataques de riso, vendo a minha situação.

Finalmente amanheceu, pude entrar no albergue, cancelei todos os outros dias e resolvi passar os demais dias na casa do Paulinho, um conhecido da família (eu nem o conhecia, cara-de-pau total), que apareceu na própria quarta, dia em que embarquei, e se dispôs a me receber. Daí em diante a minha viagem foi um sonho.

Como todas as cidades grandes, Londres também tem um lado caótico e algumas regiões bem feias, sujas e repletas de pichações. Entretanto a magnitude de locais, como a Catedral de St. Paul, Buckingham Palace, Abadia de Westminster, Torre de Londres, British Museum, National Gallery, Parlamento, Tower Bridge...acaba fazendo com que a feiura e sujeira de algumas regiões acabe desaparecendo.

Londres também é repleta de imigrantes, acho que deve ter mais imigrantes do que ingleses mesmo, de maneira que fique impossível vc conseguir estabelecer a identidade visual de um inglês, como vc consegue fazer em outros países. E acho que essa mistura é que a torna tão única e rica.

Passei cinco dias respirando arte e cultura e correndo feito louca para conhecer tudo o que queria. Saía de casa às 9:00 e só voltava às 23:00, 23:30. E, embora o metrô de Londres seja bem feio, o transporte público, de uma maneira geral, é bem eficiente e acaba fazendo com que o deslocamento na cidade seja fácil e tranquilo.

O engraçado é que, às vezes, para fazer baldeação entre uma estação de metrô e outra, você anda tanto por "debaixo da terra", que o caminho acaba sendo mais curto se vc sai do metrô e o faz a pé. A sensação com a qual fiquei é que existem duas Londres, uma na superfície e outra no subsolo. Diversas vezes me senti andando naqueles túneis das Tartarugas Ninjas, a vantagem é que quanto mais próximo do centro, tais túneis vão ficando repletos de artistas e, enquanto vc anda para fazer baldeação, você acaba ouvindo muita música boa e variada, de tudo, blues, jazz, rock e até música clássica.

Vocês não tem noção da minha alegria no dia que conheci o Parlamento, onde fica o famoso Big Ben, a Abadia de Westminster e, quando estava indo para a London Eye, "esbarrei" no Museu do Salvador Dalí, que queria conhecer desde que comprei um guia de Londres, aqui em Coimbra mesmo. Passei umas 4 horas no museu, admirada com a genialidade do "cara".

Vivi 5 dias tão mágicos que fica praticamente impossível descrever a minha viagem em um email, a única coisa que posso dizer é que fiquei maravilhada ao visitar lugares que achei que jamais visitaria e ver obras de artistas tais quais Van Gogh, Salvador Dalí, Michelangelo, Leonardo da Vinci, Renoir, Monet, Picasso, Andy Wharol, Caravaggio, Matisse...que achei que jamais veria ao vivo.

Por fim, para fechar a viagem com chave de ouro, na última noite fui assistir ao Fantasma da Ópera, fiquei sem palavras e com os olhos cheios de lágrimas.Enfim, embora tenha passado a minha primeira noite quase na rua, tenha comido sanduíches os 5 dias (fui ao mercado) porque Londres é muito, muito, muito cara e agora tenha a consciência de que comerei miojo o resto do mês, porque gastei o que podia e o que não podia, valeu a pena, não só porque Londres é uma cidade que vale a pena por si só, mas também porque realizei um sonho, o que não tem preço e valeria a pena, ainda que eu tivesse que comer pão com pão para o resto da minha vida! (acho que exagerei um pouco)

É isso,

beijao para todos,

Saudades,

Pri Carmona

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