segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Revisitando Coimbra


Era noite e caía uma garoa chata, suficientemente desanimadora, daquelas que nos deixa com vontade de ficar em casa, vendo filmes debaixos das cobertas.

Mas lá se iam 4 anos de lembranças, nostalgia, nao que eu nao tivesse ido à Coimbra no ano passado, mas estava cansada, uma das últimas paradas de uma viagem de 48 dias e havia gente, muita gente!

Embora adorasse o café com a janela voltada para a Praça da República, a música estivesse boa (Amy Winehouse) e as lembranças dos domingos em que reconstituíamos os fatos nao parassem de povoar a minha cabeça, fazendo-me ora rir, ora ficar com o peito apertado de saudades (Moni Ridi, Morg e Zé Nants, como eu me lembrei de vcs), decididamente era preciso ir até a faculdade. "Déia, volto daqui a pouco".

E saí na chuva, sem guarda-chuva, dane-se a minha dor de garganta, sempre associei chuva a prazer, bençao, lavar a alma e a cada passo, maior a ansiedade, até que finalmente chego às Monumentais (1). Wow, 125 degraus, divididos em 5 lances de 25! Bora!

A cada degrau um turbilhao de emoçoes, misturado ao peso e à preguiça que sempre me invadiram quando eu tinha que subir as escadas para chegar até as salas de aulas.

Coimbra marcou a minha vida. Me lembro do meu último e-mail, o de despedida, nao era exagero dizer que a partir de 2006 passaria a comemorar dois aniversários por ano, o dia em que nasci e o dia em que havia ido à Coimbra, porque decididamente Coimbra significava renascimento, renovaçao, reequilíbrio.

Em Coimbra livrei-me da mania de perfeiçao, do querer agradar a tudo e todos, do martírio ao ter que utilizar a borracha para corrigir os meus erros, do pensar mais nos outros do que em mim, do nao saber dizer nao, da necessidade de rotular as relaçoes (que m...insistirmos em dar nome ao que se vive, que se dane se é amor, amizade, namoro, nada, casamento, danem-se os nomes criados pela sociedade, o importante é ser amada/amar), da necessidade de estar sempre sorrindo (pqp, sou humana! nao é preciso fingir, fico triste, com raiva, nervosa, revoltada, p... com um monte de coisas e daí?), entre outros. Em Coimbra aprendi a falar e, sobretudo, a me ouvir!

Ui, quanto pensamentos, impossivel resumir tudo o que senti ao subir os 125 degraus!

Finalmente chego, dou boa noite à estátua do Dom Diniz, meus cabelos pingam, ao fundo avisto a porta férrea (2) fechada, que frustrante, terei subido até aqui e nao poderei ir até a Faculdade de Direito?

Insisto, ando até a porta, que graças a Deus nao está trancada, empurro-a e chego ao pretexto que na época arrumei para viver fora, ao princípio e ao fim de um ciclo, a aquele lugar mágico, onde o mundo parece ter parado em 1290 e o tempo parece desprovido de segundos, minutos e horas.

Nada mais importa, apenas a noite, a chuva a cair e a Lua escondida, a Cabra (3) toca, sinto-me abençoada e naquele lugar onde a tradiçao convive com a vanguarda (há cinco anos estudei Direito Espacial lá?!??!) e de imensurável significado para mim, socorro-me do silencio na tentativa de definir o que o linguajar humano ainda nao conseguiu.

Fico quieta, nao é preciso dizer nada, olho para o ceu e agradeço, sinto-me plena, feliz e isso basta!

A chuva aperta, a Cabra novamente me sauda. A vida continua, apesar da magia do momento parecer tê-lo congelado/eternizado em minha alma!

Felicidade...

Beijos,

Pri Carmona
http://www.pricarmona.blogspot.com/

(1) Monumentais - escadaria de 125 degraus que dá acesso à àrea da Universidade;

(2) Porta de Ferro, cheia de tradiçoes, que separa as demais faculdades da área da Faculdade de Direito;

(3) Cabra - na verdade é o nome de um dos sinos da Torre da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, mas todo mundo acaba apelidando a torre de Cabra. Seus sinos tocam de 15 em 15 minutos.